Minha experiência durante treze meses de intercâmbio na Philadelphia, Pennsylvania, estudando na Temple University pelo programa Ciências sem Fronteiras; experiência única, doida e inesquecível!
Há 22 anos às 17 horas da tarde de uma segunda-feira viria eu, esse pequeno ser ao mundo para encher o saco de vocês! :D
Pra quem convive comigo ou me conhece muito bem sabe: Não tem dia que eu goste mais entre todos do que o dia 15 de fevereiro. Sim, é porque é meu aniversário, mas muito mais que isso, é um dia em que, em 365, eu paro pra agradecer porque entre tantas coisas ruins que acontecem no mundo, eu ainda estou aqui pra tentar fazer a minha parte, tentar fazer diferente, ser diferente e melhorar a cada dia. É um dia em que pessoas que pela rotina e tarefas diárias separam um pouquinho do seu tempo pra lembrar de você, te fazer sentir importante. É tempo de agradecer por eu ter nascido numa família tão doida e perfeita pra mim ao mesmo tempo, por eu ter cada dia mais amigos que entram pra minha família, por eu ter oportunidades que muitas pessoas não tem. E pra que eu continue a batalhar por todas as oportunidades que eu ainda não tive.
Hoje é a primeira vez na vida que eu passarei meu aniversário longe de Campo Grande, sem parte da minha família e meus amigos... mas é por um bom motivo, e eu recebi o melhor presente de todos: minha mãe e irmã vieram me visitar =)
Quero agradecer também a todos que estão me parabenizando e desejando realmente coisas boas pra mim. A nossa vida não teria o menor sentido se fossemos sozinhos. Sou muito grata por ter muitos e bons amigos e pessoas que me querem bem, faz com que você crie uma força que você nem imaginava que tinha.
15/02/2015... segundo a numerologia isso é ....
Mas é isso, só não queria deixar de postar nessa data tão importante (pra mim, pelo menos).
Então tudo de bom pra você, tudo de bom pra mim, tudo de bom pra todo mundo!
Feliz demais por ter muito mais razões para agradecer e comemorar.
Olá!
Primeiro queria dizer que meu até logo passou, só precisava de uns dias pra pensar e eles demoraram muito menos do que eu esperava, graças a Deus.
O post de hoje não vai ser sobre meu dia-a-dia (em breve postarei), e sim sobre uma situação: morar longe da sua família, longe dos seus amigos, longe da sua cultura. Morar em outro país: Estados Unidos da América!
Yes, I could!
Eu nunca pensei morando fora, algumas amigas minhas até me zuavam porque eu falava que se um dia meus pais viajassem eu ia ficar em casa assim:
Então, para eu me aventurar a mudar de país foi um desafio muito grande, eu nunca mudei nem de casa!
E essa é a primeira coisa que eu aprendi, e não foi nem com o Obama: YES, WE CAN. A gente pode sim mudar toda a nossa rotina e aproveitar a oportunidade que aparece porque elas são únicas. Sim, únicas, eu jamais conseguiria em condições financeiras vir estudar numa universidade nos Estados Unidos, nem morar na Philadelphia. O máximo que eu já tinha viajado pro exterior era o Paraguai e agora NY está há uma hora e meia de mim. E se não fosse eu me arriscar, eu não estaria aqui nem se eu quisesse depois, porque agora o Ciências sem Fronteiras não aceita mais alunos de odontologia nos Estados Unidos (em parte eu entendo, se não fosse a pesquisa eu não estaria envolvida diretamente com nada de odonto).
Os desafios que eu enfrento aqui vão desde se acostumar com a ideia de não ter o carinho da minha família e amigos todos os dias pessoalmente até a vida de dona de casa forçada.
As pessoas falam que aqui é turismo sem fronteiras, que a vida são só flores, e que a gente só viaja e sai e posta no facebook. Mas é claro minha gente! Vocês querem que eu fique só colocando as dificuldades daqui? Sim? Ok!
Comida
Sim, eu vou reclamar pra sempre da comida dos Estados Unidos, não tem mais salvação.
Se você quer viver de fast food tudo bem, mas eu sinceramente não consigo mais comer. Eu trocaria todo mc donalds por um PF.
E é engraçado que até quando fui num mercado brasileiro aqui, as coisas que a gente não dava tanto valor antes como uma goiabada, paçoca, farofa, agora viram algo emocionante de se ver. Eu fiquei feliz de ter visto suco tang, acho que quando eu voltar pro Brasil eu vou ser assim no mercado:
O inglês
Quando eu cheguei aqui e fui no aeroporto pedir um lanche no McDonalds o inglês da mulher era com um sotaque tão forte que eu não estava conseguindo entender que ela queria saber se eu queria refrigerante!
Entender é a coisa que você consegue mais fácil com o tempo aqui, me sinto orgulhosa de entender o sotaque do pessoal de North Philly. Imagine a Rochelle falando:
E falar é aquela coisa, no começo você quer falar fluentemente e em sotaque britânico, depois que você vê que na primeira frase já percebem que você não é daqui (sempre me perguntam se falo espanhol), você só quer que eles te entendam. E pra felicidade geral a maioria é bem paciente e só estão preocupados mesmo em entender a mensagem, muitas pessoas até ajudam e te corrigem se você pedir. Mas isso são os americanos mais abertos, porque eles são bem fechados, eu achei.
Cuidar da casa
Ok, essa vai especialmente pra minha mãe: Mãe, você é demais, eu não sei como consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo em um nível de excelência invejável!
Eu tenho só a agradecer que eu sempre tive minha roupa lavada, comida pronta quando eu chegava em casa, tudo pronto... tudo mudou.
Eu tenho um ódio declarado por lavar louças, desde que me entendo por gente, é sofrido, a água estraga a unha haha, qualquer desculpa pra não encarar, mas aqui não tem jeito, ou você lava a sua louça ou você aguenta o cheiro ruim e não quer mais ficar em casa.
Eu optei por lavar a louça, pra orgulho da minha mãe e do meu pai haha.
Lavar a roupa é outra coisa que eu não fazia e agora faço, e por mais que seja só colocar na máquina, só de pensar...
... mas quando as calças acabam não tem mais jeito né gente?
O quarto continuo num processo constante de evolução em organização. Mãe, um dia eu chego lá
Administração
Aqui a gente não tem que se preocupar com aluguel, água ou luz, nem comida. Mas tenho usado a sabedoria do meu pai de que pobre é quem gasta mais do que tem. Uma vez só fiquei meio sem dinheiro e graças a Deus meu pai me mandou uma graninha também, mas aqui é muita tentação, as roupas e eletrônicos são muito baratos. Esse creme da Aussie aí que você paga 40 reais eu pago 4 dólares. Ok, não tenho o que reclamar de dinheiro. Próxima!
O inverno
Pra quem morava numa cidade onde 20 graus o pessoal colocava casaco, pense como eu me senti quando voltei das férias e aqui estava -20.
O bom daqui é que todo lugar é climatizado.
O ruim daqui é o vento. As vezes nem está tão frio mas o vento corta a alma, como disse aqui uma vez. Ele é traiçoeiro amigos. O pior é que nem neva tanto, esperei a nevasca e só veio nevinha pra Philadelphia, ainda nem fiz boneco de neve, mas cantei let it go.... afinal o frio não está mais me incomodando tanto como no começo, mas eu prefiro o calor, sol... ah... saudades.
Rotina e Convivência
Muita gente me pergunta se quando eu cheguei aqui eu fiquei muito triste. A resposta é: não. haha. Quando eu vim a minha ficha realmente não tinha caído, mas isso varia de pessoa pra pessoa aqui. No meu caso eu nem chorar chorei no aeroporto, acho que eu estava com tanto medo do avião que não pensava em mais nada. O tempo foi passando e aí sim eu fui parando pra pensar: falta mais de um ano pra eu voltar pra casa! E com o tempo você vai percebendo que aonde você está é sua casa no momento, e aquela é a sua realidade, você goste ou não, e aí ...
mas tudo bem, eu fui seguindo o conselho da minha mãe de que tudo que não é pra vida toda a gente aguenta, e com o tempo você realmente vai criando uma rotina aqui. É muito diferente você morar num lugar e visitar, vai parar pra pensar quantas coisas aí da sua cidade você não conhece? Comigo é a mesma coisa, a vontade de ficar em casa volta, você prefere ficar com seus amigos, que se tornam sua família e as coisas vão amenizando.
A convivência é complicado, principalmente por você conviver com pessoas que você nunca viu na vida e depois começa a ver todo dia. Eu vim num grupo de mais de 50 pessoas, e aqui você acaba se aproximando de uma, depois se afasta de outras, por questão de afinidade mesmo, igual colégio, faculdade. E é muito doido você pensar nisso, que você provavelmente não vai ver nunca mais na vida algumas, só as que você realmente for amigo ou mora perto, o que tem seu lado positivo as vezes. Mas é isso que faz de um intercâmbio uma coisa única na vida: você pode até voltar pra onde você foi morar, mas nunca mais vai viver a mesma coisa com as mesmas pessoas, e é aí que você começa a deixar um pouco o medo de acostumar com uma situação e passa a viver aquela vida, enquanto você pode e guardar aquilo pra sempre.
Saudade
Saudade aqui é a palavra em português mais usada, afinal não há lingua no mundo em que eu consiga descrevê-la. As vezes mal consigo explicar o que significa. É estranho que você começa a dar valor numas coisas que antes você não dava, até mesmo a comida como falei. Eu por exemplo sempre sonho que estou na minha casa, que voltei. Falo com meus pais sempre, minha família, meus amigos desculpa eu não falar todo dia mas a rotina vocês sabem como é, corrido.
Aqui é tudo muito rápido e intenso, assim como a saudade. Tem dias que ela vem com tudo e tudo o que você quer é chegar em casa e sentir o cheiro da comida da sua mãe e subir pro seu quarto até ela te chamar pra almoçar.
Saudade do pôr-do-sol da sacada de casa
Saudade dos lugares, do cheiro do vento a noite de Campo Grande, de gostar de ventos haha.
As vezes é complicado conversar com todo mundo sempre, mesmo com facebook e whats, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que eu sei o quanto eu amo vocês. E gente, o quanto eu gosto de Mato Grosso do Sul!!! hahaha Os Estados Unidos é ótimo, mas não há nada como a nossa casa. Lar é onde nosso coração está. Posso até me estressar na faculdade, mas ir tomar um suco com os amigos ou comer um açaí não tem preço.
Tenho também muita saudade dos meus amigos fieis: Zorro, Cinza, Neto e Minnie (já que Princesa não mora mais conosco =( ), meus cachorros <3
E tenho muita saudade de todos vocês que estão aí no Brasil, e aqui no meu coração! :)
(não vou nem colocar fotos porque vai que eu esqueço alguém!)
A hora de voltar
A saudade é grande, mas a saudade daqui também será, principalmente porque não viverei mais isso aqui, pelo menos não que eu saiba. Mas é preciso também saber a hora de voltar, e eu tenho tido isso muito em mente, daqui a pouco estarei reclamando da faculdade de novo mas amando estudar no fundo, minha mãe vai reclamar de pegar água pra mim todas as manhãs mesmo ela dizendo que está morrendo de saudade disso, e tudo voltará a ser como era antes, menos eu! E hoje eu vejo o quanto esse um ano está sendo uma experiência única e que era muito importante eu passar por isso. E super recomendo pra quem perguntar. Me tornei muito mais responsável, não só pelas coisas, por dinheiro, mas por mim mesma.
E eu só tenho a agradecer, todos os dias, por tanta coisa boa que aconteceu na minha vida, mesmo que as vezes a gente fique triste, a recompensa será grande.
E é isso, escrevi porque muita gente acha que tudo na vida são flores, mas também pra dizer que uma vez a Tia Iaci (aproveitando a deixa votem chapa 1 - sindicato dos bancários) me disse: Não diga que será difícil, será desafiante!
E é isso, todo dia um desafio, e uma recompensa.
Sempre em frente!
"Penso que viver a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente".